BlackBerry Moment

Hoje foi mais um dia histórico na vida deste que vos fala, eu sou o tipo de pessoa que ao longo do tempo deixou de ser emotiva para as coisas que são mais nobres da nossa vida e passou a se apegar mais a personagens, a emoção que eles nos passam em momentos chaves, não que eu não tenha chorado por perdas e afins, até porque nessa semana mesmo eu chorei por lembrar de uma amiga que faleceu no início desse ano, mas era a primeira vez desde a morte dela que eu chorava, antes disso, eu não lembro de ter chorado por algo mais humano, eu não tenho recordação de chorar por uma derrota do meu time, ou por uma conquista importante da minha vida, eu sinceramente não lembro, mas quando o assunto muda para a emoção transmitida por alguém que não está necessariamente no nosso círculo de convivência, eu viro o maior coração de manteiga dessa parte de Niterói.

Entrando nesse assunto de emoções, eu acho incrível os detalhes que as pessoas por trás dos personagens nos passa, um olhar de pena, a força, o momento de guerrilha consigo mesmo antes de uma vitória, tudo isso me envolve de uma forma aonde muitas coisas se tornam marcantes, e hoje duas mulheres negras conseguiram esse fato.

Eu já estava empolgado para ver Sasha Banks x Bianca Belair, até pelo fato de ser duas wrestlers que eu curto muito, duas performers que pra mim são o significado mais límpido de pioneiras: em nenhum momento posterior a 2021 existirá mulheres iguais a essas duas, nem com caminhos parecidos, muito menos com habilidades e dificuldades.

Toda a história, apesar de escrita de forma desleixada pela WWE (coisa que já estou acostumado), não retirou o hype que eu estava por essa luta, porquê no momento, eu estava me importando mais pela marca: duas mulheres negras no Main Event do maior evento do ano da maior empresa de Pro Wrestling do Mundo, eu, como homem negro, queria fazer parte dessa história, como um fã que desejava muito assistir isso.

Todo mundo estava esperando por esse momento, e assim que as duas entraram no ring, foram introduzidas pelo ring announcer e se olharam, Bianca com os olhos tão marejados quanto às águas revoltas de uma praia movimentada, Sasha tentando manter a postura de patroa que ela tanto ostenta, mas estremeceu, e nesse momento está tudo bem estremecer, se for parar pra pensar, elas tiveram que ser fortes por tanto tempo, que transbordaram quando perceberam o que estava por vir, e é ai que começa o lado humano dos personagens, aquilo que eu tanto me encanto.

Nesse exato momento, com as duas já se recompondo, eu estou com a mão na boca, também me segurando, mas pensando comigo mesmo: como é bom estar vivo para presenciar isso tudo.

Já com a luta iniciada e as duas tomando a iniciativa, eu já imaginava que seria uma luta pra se colocar num panteão, não precisava ser uma luta perfeita tecnicamente, ou com os golpes mais complicados, só precisava ter emoção e dedicação, e isso as duas tem, e muito.

Entre a técnica da Sasha e a força/ousadia da Bianca, eu vou me entretendo a luta, não da forma que esperam que uma luta de Pro Wrestling seja, como pão e circo, mas sim entretido energeticamente, como se eu estivesse na primeira fileira do Raymond James Stadium, a cada troca de domínio eu vou acompanhando a história, eu vou me sentindo preso a raiva da Sasha, a precipitação da Bianca Belair, a todos os detalhes, expressões faciais e do público a essa luta.

E ai vem os últimos minutos, uns golpes mais brutos, momentos de tensão entre uma lutadora já experiente e outra que até já disputou chance por título, mas nunca de fato teve a oportunidade de ter um reinado como campeã, no final de tudo, a novata se sobrepõe em cima da veterana e conquista pela primeira vez um título feminino, e nesse momento, mais uma vez, a minha mente pensa em uma coisa: cara, eu estou presenciando algo inacreditável!

Passado os momentos de comemoração, emoção, e a conversa entre os WrestleAmigos, eu paro pra ver o replay da luta na transmissão, já sem toda a empolgação antes citada aqui, e eu penso numa Filosofia que o Ernie Johnson Jr. (Apresentador do Inside The NBA, um dos programas que mais curto assistir) normalmente fala, que é sobre os Blackberry Moments, que são aqueles momentos aonde você apenas desfruta do sentimento que você está rodeado e aprende a compartilhar com os seus semelhantes...

E eu paro pra retornar a linha do tempo, desde o momento em que a Bianca vence a Royal Rumble Match, o caminho dela como uma novata diante da Sasha Banks, uma das wrestlers mais imponentes e experientes do SmackDown, que finalmente teve a chance de ter um reinado digno do talento que ela tem, e que entregaram uma luta muito boa dentro do Main Event de uma WrestleMania e penso comigo mesmo:

"Bem, esse é um Blackberry Moment, então vou desfrutar desse sentimento."

Chorei um pouco, e vim escrever esse texto.

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